Amar é dar tudo e dar-se a si mesmo

Nestas palavras de S. Teresinha contemplo o sentido e a essência da minha vocação como carmelita descalça.
Foi uma opção que nunca imaginei nem desejei para a minha vida. Tinha tudo, e tudo o que tinha era imensamente bom: a família, os amigos, mas também o trabalho, o namoro, as viagens, os projectos pessoais e profissionais… enfim, os sonhos da juventude! Um desses sonhos era partir em missão, só me faltava descobrir que a missão que Deus tinha para mim era outra…!
Gostava muito do que fazia – formei-me em fisioterapia para, precisamente, poder ajudar as pessoas –, estava envolvida em algumas acções pastorais e de voluntariado no âmbito da ajuda humanitária e era feliz, mas tudo me parecia pouco, sempre pouco.
Como ajudar mais? Ele amou-me e entregou-Se por mim – e eu, o que faço por Ele? Pelos outros? Pelo mundo? – estas e outras perguntas começaram a ressoar fortemente dentro de mim. No fundo, tinha tudo mas faltava-me sempre algo – e esta passou a ser cada vez mais a minha inquietação interior, já a aproximar-me dos 30 anos e havia sempre um vazio, uma necessidade, uma sede… sede de MAIS, sede de PLENITUDE, sede de TUDO.
Neguei e resisti muito a este chamamento – “ser freira não é para mim”, pensava, e mais tarde dizia a Nosso Senhor: “pede-me tudo menos ser freira, e muito menos freira de clausura… ainda se fosse como a Madre Teresa de Calcutá”! Ia sentindo que a minha vida passava mesmo por uma consagração a Deus, nomeadamente na vida contemplativa, mas continuava a resistir…
Costumo partilhar um pormenor que penso que expressa bem a Providência infinita de Deus, que espera paciente e amorosamente por nós, com total liberdade: “fugi a 7 pés”, como se costuma dizer, mas quando fui para a Suíça, onde vivi nos últimos anos, tinha um Carmelo a 10 minutos de casa!
À medida que fui “baixando as defesas” e abrindo o coração, começaram a abrir-se muitas “portas”, muitas “janelas”… – Pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e abrir-se-vos-á. Com a graça de Deus, através do poder da oração, de muitos acontecimentos e das mediações humanas que Ele foi colocando no meu caminho, foi possível responder ao Seu convite – vem e segue-Me – e dizer-Lhe o meu “SIM, Senhor, aceito, vou”. E assim, depois de um tempo de discernimento, entrei no Carmelo de S. Teresa a 13 de Outubro de 2014.
Podia “respirar fundo” e exclamar como S. Teresinha: Encontrei finalmente o meu lugar – o lugar pensado para mim desde toda a eternidade! Que PAZ! Que ALEGRIA! Que PLENITUDE! Após o período de formação inicial, disse o meu SIM a Deus para sempre, sempre, sempre aquando da minha Profissão Solene no dia 16 de Julho de 2022. Foi um culminar e, simultaneamente, um despontar, já que a vocação não é uma fase nem um tempo determinado, mas um caminho com Deus e para Deus ao serviço dos irmãos – a vida inteira na fidelidade de cada dia.
No recolhimento do claustro, numa vida escondida com Cristo em Deus – a sós com Ele só –, vou experienciando aquela misteriosa fecundidade apostólica. No Carmelo posso ser missionária por toda a parte, estar em todas as frentes de “batalha”, na retaguarda dos que lutam no meio do mundo pelo triunfo do BEM. O meu coração de carmelita, unido ao meu Senhor, abraça todos os lugares da terra, todas as periferias, todas as tragédias, todas as misérias, todas as dores, mas também todas as alegrias – apresento ao Pai as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias da humanidade de hoje, especialmente dos pobres e dos que sofrem.
Ofereço ainda as minhas orações e os meus sacrifícios de modo especial pela santificação dos sacerdotes e pela conversão dos pecadores – as 2 grandes intenções que abrasavam o coração de S. Teresa de Jesus (de Ávila), nossa Madre fundadora. Vim para o Carmelo para salvar almas e sobretudo para rezar pelos sacerdotes – assim vivo a minha maternidade espiritual.
O mundo está a arder, de tantas formas e a tantos níveis… Para combater esse “fogo” do mal com o “fogo” do BEM, peço a graça de fazer da minha vida um contínuo ofertório – ser hóstia viva, pão partido para os irmãos, famintos de pão e de paz, de justiça, de amor, de sentido para a vida.
N’aquela eterna fonte que está escondida neste pão vivo para dar-nos vida – a Eucaristia, fonte e cume de toda a vida cristã –, ofereço-me por Cristo, com Cristo, em Cristo, dando graças e louvores por todas as Suas maravilhas, suplicando e intercedendo por todas as necessidades da Igreja e do mundo. Uma entrega silenciosa e orante que perdura ao longo de todo o dia, em cada dia da vida – no trabalho, na Liturgia, na vida fraterna com as Irmãs, na oração junto ao Jesus escondido.
Acredito verdadeiramente que a “arma” mais poderosa do mundo é o AMOR, e que só o AMOR pode transformar o mundo – cada um no seu lugar, na sua missão.
Na caminhada do Monte Carmelo que é Cristo, sob o manto protector de Maria, desejo ardentemente ser o AMOR no coração da Igreja, no coração do mundo, no coração de cada Homem – assim serei TUDO!
Jesus deu a Sua vida por nós, também nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos – Amar é dar tudo e dar-se a si mesmo – eis a minha vocação! Ir. Dina de Maria e de Jesus Eucaristia